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quarta-feira, 26 de março de 2014

Quando vier a primavera

Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, escreveu este pequeno poema, chamado "Quando vier a primavera".

Aqui, declamado por Valdemar Santos, ator Português.

Adoro este poema. Adora esta declamação.
Desfrutem. Vale a pena.


Quando Vier a Primavera
(Alberto Caeiro)

Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. 
A realidade não precisa de mim. 

Sinto uma alegria enorme 
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma 

Se soubesse que amanhã morria 
E a Primavera era depois de amanhã, 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. 
Por isso, se morrer agora, morro contente, 
Porque tudo é real e tudo está certo. 

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. 
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. 
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. 
O que for, quando for, é que será o que é.

2 comentários:

  1. Grande Pessoa é esse Fernando, hein?! Autor admirável, criativo, maravilhoso! Alberto Caeiro, com toda sua simplicidade, sempre foi um de meus favoritos heterônimos. Acho que essa ligação dele com a natureza é deveras mui bela, e toda essa simplicidade que não é assim tão singela como se espera... Amo quando ele conclui que o mundo sem ele continua, que ele não é tão importante assim e nem deseja sê-lo... Ah! Que ser tão simplista e conformado com sua pequenez e finitude diante da grandiosa e "imortal" natureza!

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    Respostas
    1. Mas esse "conformar" deixa a vida muito mais bonita... :)

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