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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Arapucas Literárias: Divulgação no Exterior


Todo escritor sabe que para ser lido, é preciso que o leitor saiba que ele, e sua obra, existem. Mais, é preciso que o leitor seja regularmente lembrado disso. A divulgação torna-se uma necessidade. Mais.
É obrigatória.

Essa obrigatoriedade, aliada à concorrência acirrada que existe no mundo literário brasileiro, onde há muito mais escritores do que leitores para os consumir, cria um terreno fértil para diversos tipos de armadilhas. 

Algum tempo atrás uma amiga pediu-me para dar uma opinião sobre um convite, feito a um escritor que ela conhece, para fazer divulgação no exterior.

No caso específico, a divulgação seria feita em um evento literário em Itália, através de um catálogo, onde constaria a foto e o nome dos autores que aceitassem participar. Para participar era fácil, bastava pagar $70 (setenta dólares).

A minha resposta à questão “vale a pena?” foi bastante fácil: Não. De forma nenhuma. Nem pensar.

Cada caso é um caso, claro. Mas em 99.9999% dos casos, divulgação no exterior é um péssimo negócio para escritores.

Qual a função da divulgação? Divulgar é dar a conhecer para o maior número de pessoas possível.
Qual a função de um evento literário? Vender livros.

As editoras não estão lá para dar a conhecer seus autores. Elas estão lá para vender livros. Dos seus autores. Autores que o público já conhece. Elas usam o evento para aproximar os autores do público. Mas a variável mais importante aqui é esta: público. Eles vão a um evento literário para falar com seus autores preferidos, para comprar os livros que estão na sua lista, que por acaso fizeram ainda antes de sair de casa. Pouquíssimas pessoas vão a um evento literário para “descobrir novidades”. Isso destrói qualquer possibilidade de sucesso, em termos de divulgação, para autores desconhecidos.

Você, escritor desconhecido, não faz parte dos planos do público internacional. Eles não te conhecem. Eles não querem te conhecer. Isso é verdade no Brasil e é ainda mais verdade fora do Brasil.

Outro aspecto importante de eventos literários, principalmente as feiras, é que normalmente existe um evento interno destinado exclusivamente às editoras. É um espaço para negociar a compra de direitos de publicação de obras de autores internacionais. Chegam-se a fazer verdadeiros leilões, em que as melhores propostas serão as contempladas com contractos de publicação. 

Você, escritor desconhecido, não faz parte dos planos das editoras internacionais. Elas não te conhecem. Elas não querem te conhecer. Aliás, isso também é verdade no Brasil. Se as editoras quisessem você, você não estaria tentado a aceitar divulgar sua obra fora do Brasil, porque a sua editora, com os direitos de publicação, estaria tratando disso.

Há muita gente com propostas para divulgar a obra de terceiros no exterior. A ideia que passam é de que querem levar a literatura brasileira para o mundo. Infelizmente, são pessoas ingénuas, que não perceberam ainda que esse não é o caminho. Ainda pior é que muitas estão agindo de má fé.

E é muito fácil enganar alguém quando esse alguém tem poucas possibilidades de verificar a veracidade dos factos. E como é fácil burlar pela internet, com fotografias, perfis de redes sociais, entidades e eventos falsos, etc. Há verdadeiros profissionais, no Brasil, em enganar escritores desconhecidos.

Por isso, abra bem os olhos. Se te convidarem para divulgar seu trabalho no exterior, corra. Muito. Porque é uma cilada.

2 comentários:

  1. Que horror!!! O_O MAS é assim mesmo: puro e sórdido interesse mercadológico, é claro! Bom saber a sua opinião acerca disso.
    Bem, tem lá uns gatos pingados que conseguem fazer fama por aí... Mas é raro. Tem o caso de Geovani Martins com o livro de contos "O Sol na Cabeça", que fez sucesso na feira de Frankfurt... Porém, ele teve um help do escritor Antônio Prata.

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